Quadrinistas potiguares prometem um ano novo repleto de novidades em segmento criativo que faz de Natal uma cidade-polo
*Beto Potyguara
Ao longo da última década, Natal tem se consolidado com um dos principais polos de produção de histórias em quadrinhos (HQs) do Nordeste, com uma média de dez ou mais publicações ao ano. Visando contribuir para a manutenção dessa profusão criativa, a editora independente República Dos Quadrinhos (RQ) anuncia o retorno de suas atividades para o ano de 2020.
Para os desavisados, a RQ teve uma importante contribuição na difusão do quadrinho potiguar, sobretudo, no âmbito do cenário nacional. A atual editora surgiu como um coletivo nacional em 2009, e promoveu vários eventos em Natal, além de mais de oitenta lançamentos virtuais e impressos, no período de 2010 a 2013 – obtendo três indicações ao Prêmio Ângelo Agostini e sendo três vezes finalista do TOP Blog Brasil, figurando em duas oportunidades entre os 50 melhores blogs do país. Esse retorno após um curto hiato de hibernação, só vem a coroar o bom momento que o quadrinho potiguar vem vivendo nos últimos anos.
E agora vamos divulgar em primeira mão os principais projetos que estão em fase de produção para serem lançados a partir do ano que vem.
O retorno de Carcará
Criado despretensiosamente em 2009, por Beto Potyguara, para a participação no Edital Moacy Cirne da Fundação José Augusto, “Carcará, cabra pió num há!” foi um dos grandes sucessos da leva de revistas lançadas em 2011, pelo Projeto Primeira Edição. Sendo um dos poucos títulos a ter a sua tiragem esgotada e a fazer uma segunda impressão, ainda no mesmo ano. Carcará recebeu ainda uma indicação ao Prêmio Ângelo Agostini, em 2010, quando foi disponibilizado como webcomic.
O personagem retorna agora em grande estilo, numa edição mais robusta, com mais de 50 páginas, e num formato maior que certamente agradará ainda mais o público e valorizará a arte de seu autor.
Nessa nova empreitada com ares de graphic novel do sertão, o cangaceiro terá de enfrentar dois cabras truculentos, dois nós-cegos, um arruaceiro fanfarrão, chamado Galileu e um caçador inescrupuloso, o Zé Matança – não por acaso a publicação se chamará “Os três Nós-cegos”. A dobradinha cordel-quadrinhos que foi o grande diferencial do título na época de sua estreia, está mantida e foi aprimorada, assim como, a retratação do personagem. Os três nós-cegos tem a pretensão de ser lançada durante a décima edição da Feira do Livro e Quadrinhos de Natal – FLIQ.
Extraordinariamente notáveis
O segundo grande lançamento da RQ, será a retomada (ou o reinício) da série Os Notáveis. Diferente de Carcará, Os Notáveis teve uma passagem discreta dentro do Projeto Primeira Edição. O seu crescimento foi sendo construído gradualmente, junto ao público, durante os eventos de quadrinhos.
Ainda existe muito sigilo em torno do lançamento desse título, e sobre a série como um todo. Para os nãos iniciados, Os Notáveis tem uma narrativa muito próxima de séries televisivas como Lost e Arquivo X e usa como pano de fundo para as suas histórias, fatos e personagens históricos reais, desconstruindo cada um deles, com muito bom humor. No Brasil surreal retratado na série, temos sacis, lobisomem, ETs, robôs gigantes, dinossauros e muito mais. E é esse “mais”, que é sem dúvida, a grande atração. Imagine uma superequipe formada pelo águia de Aia, Ruy Barbosa; pelo Marechal Rondon; pelo pai da aviação, Santos Dumont; pelo Cavaleiro da Esperança, Luís Carlos Prestes; pelo pai da vacina, Oswaldo Cruz; pelo cangaceiro, Lampião; pelo fantasma dos Palmares, Zumbi; pelo beato, Antônio Conselheiro; e pela pequena notável, Carmem Miranda. Junte tudo isso, a um plantel ilustre de personagens coadjuvantes, acrescente uma pitada de conspiração e uma infinidade de referências à cultura pop de várias épocas e bum! Temos o cardápio de Os Notáveis!
Muiraquitã é um dos dez capítulos que compõem o Tomo I da série. O roteiro fica a cargo de Beto Potyguara e a arte vem sendo brilhantemente produzida por Anderson Gomes, o AGN. Beto, além de roteirista desse e de outros títulos, já foi colaborador de vários periódicos esportivos locais, como chargista e ilustrador, e vinha se dedicando exclusivamente nos últimos anos à pesquisa e à formação de educadores sobre o uso das histórias em quadrinhos no Ensino. Anderson por sua vez, possui um vasto repertório de publicações de HQs informativas e institucionais, com destaque para “Hivinho” e “Hígida”, produzidas em parceria com o médico pediatra e infectologista, Francisco Micussi; além de dois projetos solo, Anauê (2017) e Potiguaçu (2019). Muiraquitã deve ser disponibilizada inicialmente para leitura online no segundo semestre, e ainda não possui previsão para seu lançamento impresso.
Humor em Tiras
Encerrando a trinca de novidades, a RQ marcará o seu retorno oficial, com as tirinhas do Forte Poty, outro título de Beto. O Forte foi um dos projetos selecionados recentemente pelo Edital de Quadrinhos Edmar Viana da FUNCARTE e vai ser lançado no primeiro trimestre de 2020, em dois formatos: o proposto pelo Edital, um zine/formatinho e um “widscreen” – com a versão do autor. A versão horizontal valorizará a leitura e a natureza da série e contará com vários extras, sendo disponibilizada inicialmente apenas online. Em O Forte Poty, há muita sátira e crítica histórica e social, e é um material que foi utilizado em sala de aula durante um bom tempo, por seu autor, que também é professor de História.
E a RQ promete que ainda há mais novidades a caminho ainda para 2020. Então é bom à gente dar uma parada, tomar um ar puro, respirar fundo, tomar um gole d’água, juntar os níqueis da carteira e esperar para o que a República Dos Quadrinhos e o ano novo, nos reservam! Até lá!
Beto Potyguara é quadrinista.
